Complexo de Manny

Cena 1: Chego para embarcar, dia de semana, final de uma tarde meio fria, poucas pessoas viajando. Estou quase no fundo do ônibus, geralmente aumenta a chance de não ter "companhia" do lado, não ando lá muito sociável para viajar conversando com ninguém. Algumas poltronas a minha frente se senta, também sozinho, um carinha... mais jovem do que eu provavelmente, logo passa por nós uma moça, definitivamente mais jovem que nós dois, mas não era nenhuma "novinha"...

Antes da viagem começar, percebo que o carinha olhou algumas vezes para trás, achei estranho, mas enfim...

Mal o ônibus deixa a Rodoviária, começa a busca pelas tomadas para carregar os celulares, ele se levanta, passa por mim e pergunta algo relacionado ao carregamento do celular para a moça, se desenrola então um daqueles "papinho de elevador"... Ele apoiado no banco da poltrona, ela sentada... Da minha poltrona, em diagonal a eles, mesmo que não quisesse era impossível deixar de acompanhar "a trama".

Mesmo assim, demorei a acreditar no que imaginava que se seguiria... Peguei meu livro e dediquei-lhe ainda mais atenção... Algumas horas depois, vejo que eles desceram juntos para um lanche, na volta, ele "se mudou" para a poltrona ao lado dela. Mais algumas horas, já era possível ouvir os beijos e sussurros... CORTA!

Cena 2: Essa semana, Terminal Rodoviário da Barra Funda em São Paulo, véspera de feriado já sabia que não seria uma viagem "fácil", para animar ainda mais, frio e chuva deixavam a noite "mais animada". 

Foram duas longas horas esperando o meu ônibus, o último do dia, marcado para o início da última meia hora do dia, em meio aquela multidão de gente também esperando ônibus, me veio uma sensação estranha de "invisibilidade"... Nem tão estranha assim, confesso que ela me acompanha já tem tempo, pensei que muito provavelmente, se alguém perguntasse para algumas das várias pessoas que estavam ao meu redor, nenhuma delas "de fato" me viu, ou provavelmente se lembrará da minha pessoa...  CORTA!

Pois bem...

Acho que eu estou me sentindo uma "Samambaia"... essa é a verdade! :P
Grande, "cabeluda", que só ocupa espaço kkkk

Uma "paixão rodoviária" nunca foi exatamente minha meta de vida, mas não posso deixar de pensar que a viagem deles deve ter sido muito mais legal que a minha, com as mãos entre as pernas para esquentá-las... 

Não sei, as vezes eu acho que não foi "dessa vez" e tenho que aceitar o fato de que talvez eu seja uma pessoa que vai ficar sozinha mesmo... Bom, eu não seria o primeiro, na minha própria família tenho exemplo de pessoas, que por sinal são/foram muito bacanas mas..., que apenas não se encontram com ninguém ou se encontram em um momento não muito bom (famoso bad timing) e assim foram... Talvez eu tenha sido um desses sorteados, talvez não...

Enfim, nem sei se eu queria mesmo.... [ehehehe]

Mas acho que eu queria... confesso...

No fundo me assusta um pouco essa ideia de um dia eu venha a "desaparecer" mesmo... Tenho uma amiga que sempre brinca que não queria ser daquelas velhinhas que morre sozinha e as pessoas só vão achar depois de um tempo... :P




O Manny (Manfred) é um dos personagens do filme "A Era do Gelo / Ice Age (2002)", um mamute que no primeiro filme acredita ser o último da sua "espécie", por isso anda sozinho por ai na época do degelo. Felizmente, para ele e para mim, ele não era o último...


Definitivamente, acredito que viajar no frio e com chuva, é um saco...  :P


"Todos nós já estivemos nessa encruzilhadas.
Da noite para o dia é preciso recomeçar.
Mas de onde? com quem? 
É difícil esticar as assas,
quando se passou a vida toda 
na gaiola".

17 comentários:

Pérola disse...

Nós e os nossos desvarios e pensamentos.

Gostei da narração.

Beijinhos

No Limite do Oceano disse...

Eu adorei esse filme :-)

Eu sinceramente acho que irei ficar sempre sozinho, se há dias que penso que a culpa é minha, que não me dou aos outros, há outros que penso que o grande problema é não ter ninguém a quem me dar, no entanto, não consigo dar-me a qualquer pessoa, além de desconfiado, apesar de eu ter boas intenções, dificilmente acredito nas dos outros.

Morrer sozinho é um duro golpe do destino, nem quero pensar nisso. :-(

A cena 1 e Cena 2 davam para 2 curtas metragens :D

Anônimo disse...

Gostei imenso da descrição! :) Não creio que fiques sozinho eternamente, aliás, acredito que há sempre um testo para uma panela. É apenas uma questão de timing. :)

Um abraço!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Acho eu, na minha mais completa ignorância, q é uma questão única de se permitir ... posso estar enganado, mas é o q penso ...

Lobo disse...

Também tenho medo de morrer sozinho, mas a verdade é que não nos podemos condicionar por isso, caso contrário morremos desde logo, mesmo que ainda andemos por aqui mais uns valente anos.

Lobo disse...

Ah e concordo com o comentário do Paulo.

Unknown disse...

Não tem como, não tem jeito, eu preciso, eu necessiiiiiiito perguntar: WTF é essa história de “SE PREMITIR”?! Pelas barbas do profeta! Seria colocar uma plaquinha no pescoço avisando que topa tudo? Que tá a fim? Que tá matando cachorro a grito? Menas, né... bem menaaaas!

Pronto... acabei meu momento revolta! rs

Unknown disse...

Affe... até errei! As palavras demoníacas são: SE + PERMITIR... rs

Anônimo disse...

Uma vez, quando era mais jovem do que ainda sou ( e sou uma criança ) disse para mim mesmo sobre essas questões do amor: " se for para comer migalhas, prefiro passar fome o resto da vida! Migalhas não alimentam e ainda por cima aumentam a dor da fome!"
Tudo bem.....eu era (????) meio radical, mas me livrei de muita indigestão pelo caminho da vida!
Tenha esperança no coração do homem de lata! Desde que começei a ler seu blog eu sempre tive esperança que seu caminho ainda vai levar você para Oz!!!
Bjs

Mark disse...

Engraçado esses encontros de ônibus. Nunca vivi nada parecido. Também sou pouco de me dar a desconhecidos. Temo o contacto. Fico na minha. :)

Às vezes gostava de ser mais solto, mais dado, mais sociável. Alegre. Fazer o quê? Difícil mudar quando até os meus genes me contrariam. Tenho uma avó paterna bem soturna, tristonha.

abraços, amigo Latinha!

Fabrício disse...

Nunca rolou nada comigo em ônibus, eu amo dormir, ouvir musica ou ler, e acabo dispensando as pessoas, no máximo um oi kkkk, sento sempre no fundo pra fugir do ar cond, anulando qqer chance de um amor ou de uma simples paquera na viagem.

Mas lendo seu post, na parte final achei triste, não acho que vc seja uma pessoa que irá 'acabar' sozinha e nem que mereça ficar sozinho, mto pelo contrario, o tanto interessante que é, tem tudo para ser feliz e será.

Mas dos conselhos o de se permitir achei que foi bem colocado, e não o entendi no sentido de sair morrendo de amores por qqer um, ser dado ou criar paixões platônicas.

O meu grande erro na vida, a ponto de desperdiçar anos e algumas chances de ter sido feliz, era buscar um outro 'eu' nos outros, com msms gostos, perfis parecidos, que gostasse dos mesmos lugares, se fosse um pouquinho diferente eu ja achava chato e que não daria certo. Não me permitia conviver ou dar chances de alguém com perfil diferente daquele imaginado nos meus 'sonhos'.

Depois de uns pes na bunda e solidão, percebi que até o mais oposto do 'cara ideal dos sonhos' pode mts vezes me completar, passei a ver a outra pessoa como outra pessoa e me permitir ser feliz.

Bom ainda estou no 0x0 kkkkkk, mas as probabilidades nessa linha de raciocínio caminham bem mais a favor do que antes.

uma boa semana, um abraço.

Homem, Homossexual e Pai disse...

Eu me lembrei bem da cena em que o Manny se "esconde" atrás de um galho... achando que tinha ficado invisivel... Seu texto esta excelente Homem de Lata...
Eu nao sei bem o que dizer, mas eu diria para vc não desistir de encontrar alguem legal, mesmo que seja no onibus... vc é um cara legal e não merece sumir...

Math disse...

Concordo com o comentário do Lucas....pq todo mundo acha que "se permitir" resolve tudo? E que lance é esse??? Como funciona? Como liga ou desliga?
Não é assim não......entendo o teu texto, já discutimos muuuuiitoooo sobre isso...e apesar de as vezes ter a mesma sensação que a tua, ainda tenho fé que um dia dá certo....mas esse lance de "se permitir"...que vá a M....

Pérola disse...

As subjetividades humanas...

Beijo

Pérola disse...

As subjetividades humanas...

Beijo

Três Egos disse...

As pessoas realmente flertam nestes ônibus, mas isso não quer dizer que a sua alma gêmea esteja lá. Na época da faculdade quando pegava bastante estes ônibus, já me abordaram algumas vezes. A que me lembro mais foi quando um cara simplesmente pegou na minha parte intima como se fosse a coisa mais normal do mundo. Na época era mais novo e não dei escândalo nenhum, mas logo tirei a mão dele, olhei feio e não nem olhei mais para a cara, depois ele pediu desculpa, mas nem respondi. Achei absurdo! Sou santo, gente! Rsrs

E também tenho muito este complexo aí, vou ficar para titio certeza! Mas podemos compensar com outras coisas para não sermos completamente esquecidos... Rs

Uma Cara Comum disse...

Imagino como se sente... Tem momentos que seria bom não ser invisível e estar em uma "paixão rodoviária", só pra nos confortar por alguns instantes...

abração!

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