Encerrando uma Fase

Em que momento a gente descobre que ama?

Foi no momento em que nossos olhos se cruzaram enquanto ele tocava? Mas ele nem me viu. Nos olhos, não tinha o reconhecimento ou o interesse. Talvez fosse por isso, por ele nem ter me visto, que foi tão fácil detestá-lo no início. Não suportava saber nada que viesse dele, não me interessava a vida dele.

Mas a vida, essa que a gente tenta se esconder coloca o que foi escondido à luz e de repente eu estava de novo frente a frente. Mas mesmo assim, eu insistia, eu não gosto!, eu dizia. A primeira batalha perdida foi quando eu tive um problema e quem se preocupou? Ele mesmo. Alguma coisa em mim, gritava: Como assim? Ele tá preocupado comigo? Mas a gente nem se gosta! A segunda batalha, eu nem sabia que era uma. Começou com uma conversa tola e terminou com um coração aberto. Naquele dia eu o conheci de verdade.

Ele se mostrou pra mim, como talvez ele não faça nunca mais; contou das suas dores, das suas perdas, dos seus fracassos. E a minha vontade era que o tempo parasse. Como eu queria ter tido coragem de estender minha mão na direção dele, que precisava de conforto! Como eu queria ter tido coragem de apertá-lo contra o peito na tentativa de suprimir aquela dor que ainda era tão presente. Mas era tudo tão novo! Até ontem, ele nem existia, e naquele momento ele não apenas passou a existir, como me preencheu de uma coisa tão forte, tão grande, tão boa.

A minha falta de coragem, impediu os abraços, o consolo e talvez naquele dia enterrou um amor que podia nascer. Mentira. Na verdade o amor nasceu, acredito que entre os dois, mas não da mesma forma. E a grande ironia é esta: o que fazer quando se ama, se deseja e não é correspondido? Quando se desperta com a doce lembrança e dorme com o sorriso? E eu digo, como é difícil “mudar” o amor. Por que se fosse paixão, ela ia queimar mas ia acabar. E o amor? O amor não queima, é uma chama que não arrefece, não machuca.

E eu sei que é necessário fechar esse ciclo. Amar diferente.
Então por que a sensação de perda? Por que a dor? É só amar o amigo, ver o irmão.
E o que se faz com o desejo?


Acho que a impressão que eu tive no começo era um aviso para não me envolver, mas tolo, não percebi que já estava envolvido. Naquele dia, meu coração já estava perdido. Será que teria sido diferente em outro tempo? Será que se aquele coração não tivesse sido ferido, ele poderia ter me amado como eu queria?

E hoje é dia de despedida.

Hoje é dia de abandonar a ilusão do “quem sabe um dia”, esvaziar o coração para tornar a enchê-lo de sentimentos mais sublimes. E como é difícil. Mas como não fazê-lo se a pessoa não te retribui, se diz-se incapaz de amar novamente dessa forma?

Apesar de o meu coração gritar que é mentira, que não é assim, que ele poderia pelo menos tentar, eu sei que não posso impor-me desta forma. Quem ama, liberta, já dizia o poeta. E hoje eu estou abrindo a gaiola. A gaiola que eu mesma me coloquei. E como saio? Do que me adianta a porta aberta, se eu quero ficar? Se eu não queria ter que sair? Mas também, penso eu, do que adianta ficar se a gaiola está vazia, se junto não tem ninguém? Somente a promessa vista naquele dia, naqueles olhos?

Por quanto tempo a gente alimenta uma promessa vista de relance em um olhar, feita no meio da noite, no calor das emoções? À luz do dia, sempre vem as limitações. Eu só espero que essa dor logo passe. Que eu torne a olhar com olhos fraternos para aquele que hoje desperta no meu peito desejo. Que eu aprenda a suportar a solidão de conviver comigo mesmo sem as ilusões, e que logo minhas asas me ajudem a voar.

Para onde? Não importa.

Eu só preciso voar.
(CSS, 2009, Adaptado)

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:-) Grande semana a todos, bons voos!

L.


Jealousy

Particularmente, eu não fui assombrado por nenhum fantasma na última sexta-feira - devo confessar que até andei dando sopa, mas eles pareciam mais ocupados. A única coisa digna de nota, aconteceu quando eu voltava para casa, já meio tarde, rádio ligado, janela do carro aberta em uma via expressa.

Por mais que meu orgulho seja arranhado ao revelar isso, para ser sincero tenho que dizer que naquela hora os meus pensamentos andavam por onde não deviam - mas foi nesse momento que começou a tocar no rádio uma música... daquelas que parecem ter sido colocadas de proposito.

É meio dor de cotovelo, aliás... é dor para os dois cotovelos, mas é uma bela música e se não for suficiente é cantada pela Nana Caymmi que tem uma bela voz... Depois daquele momento, fui obrigado a dar o dia por vencido, fechar o boteco e me retirar "à francesa".

A música?! Bom... eu vou dizer qual era, se você está no "meio-tempo", assim como eu, e por enquanto tem "os seus fantasmas" por vagando por ai, acho que quando ouvir a música vai entender perfeitamente do que eu estou falando. Do contrário, se você está entre os sortudos, que tem alguém para chamar de seu... releva o momento, mas aproveita o som da voz da Nana, que é muito gostoso.

Abração e uma ótima semana! E não se esqueçam de mim! ;-)


Onde você estiver,
Não se equeça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim
(NANA CAYMMI & ERASMO CARLOS)


"Sexta-feira 13! Grande coisa pensou ele... exceto por alguns incovenientes aquela fora uma sexta-feria tão ou mais tediosa quanto as demais, tanto que aquela noite decidiu sair para espairecer um pouco. Agora, sentado naquela mesa estratégica que o permitia ter total visão sobre quem entrava e saia, ficava a observar o movimento.

Casais, namorados, namorados que procuram fingir que não são namorados e assim entre olhares de cumplicidade e gestos contidos ele se colocava na posição de apenas um observador... afinal, talvez ele fosse o único sozinho naquele recinto. Ou melhor, sozinho, não! Estava na companhia de um legítimo White Horse, aquele Old Scotch Whisky era seu conhecido desde a infância quando aprendera com seu avô a sorver e apreciar o gosto forte do malte... quando sempre ficava com o golinho, que era bebido em "one shot" e sem gelo - do jeito que seu avô tomava e costume que ele ainda cultivava - seus amigos muitas vezes assustavam-se ao vê-lo com seu famoso cowboy...

De súbito se lembrou que alguém uma vez lhe dissera que se o cachorro é o melhor amigo do homem, o cavalo é um parceiro para toda hora! Por isso, lá estavam ele e o seu cavalinho, que irônia... Por falar em ditos, ao conferir o relógio lembrou-se da tão mal falada sexta-feira 13, dia que supostamente fantasmas e assombrações nos dariam a honra de sua companhia. E um sorriso misterioso de canto de boca se fez...

Reza a lenda, que não se deve convidar um vampiro para entrar em nossa casa...
Pois bem, naqueles dias ele andava flertando com o perigo e de certa forma desejava que tal momento chegasse, ignorando os avisos sinceros de que não devia. Não que ele os ignorasse por completo, mas ele simplesmente o queria, ansiava por sentir novamente o ar quente daquela boca lhe percorrer o pescoço.

Por diversas razões, que ele já havia contado ao cavalinho branco e que provavelmente não seriam repetidas, ele sabia que o desejado encontro não aconteceria. Fosse por orgulho ferido, fosse pelo desejo que muitas vezes o tomava na calada da noite, tinha para si que a frágil intersecção de suas existências já tinha se passado e que agora, suas vidas caminhariam paralelas. Fato que nem o cavalinho poderia mudar...

Aos poucos o sorriso foi deixando os lábios dele, e após os devidos procedimentos se levantou e caminhou calmamente até a porta, deve ter atraído alguns olhares, mas para ele pouco importava. Lutando contra o vento gelado que cortava a noite, arrastou a pesada porta de madeira e vidro e saiu caminhando noite a dentro, sumindo aos poucos na densa neblina que encobria a cidade.

Na verdade, é bem provável que carregasse no peito o desejo de que contra toda a lógica e princípios matemáticos conhecidos, o dito se confirmasse, e aquele fantastama viesse lhe assombrar naquela noite. Talvez até encontrasse outros fantasmas, vai saber! Ele próprio pe bem provável que seja o fantasma de outrem.

Mas, apesar de tudo isso, só havia uma dúvida em sua cabeça, queria ele realmente convidar o vampiro para a casa dele? Ou devia aceitar o fato, e apenas deixá-lo passar...

Venha me beijar
Meu doce vampiroooo
Ou ouuuuu
Na luz do luar
Ãh ahãããããh
Venha sugar o calor
De dentro do meu sangue...vermelhoooo!
Tão vivo tão eterno...veneno!
Que mata sua sede
Que me bebe quente
Como um licor
Brindando a morte e fazendo amor...
(Doce Vampiro, RITA LEE)


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Então, para não perder o momento Sexta 13!, né?!

Respondendo ao pessoal, eu não pensei em um conto, fragmentos talvez (?), não sei! Acho que tá mais para dias nublados com tédio e um pouco de dor de cotovelo, kkkk. Talvez seja um Dark Latinha se manifestando, mas não acho que estou passando para o lado negro da força!

Acho que em breve termino umas coisas importantes que estou fazendo e retorno "com as dúvidas e incertezas" de sempre! ;-)

Abração!

Como sempre ocorre quando algo vai acontecer, aquela foi manhã que começou quente e ensolarada, contudo, escondia um entardecer negro e soturna... Tal qual como um roteiro bem elaborado, bastou que todos baixassem a guarda para que as nuvens mais escuras e pesadas se instalassem sob o início daquela tarde, não tardaram os trovões e os raios mostraram a que vieram.

E foi assim que a noite invadiu o dia...

A essa hora o barulho da chuva fazia ouvir-se de longe... irônico eu diria, justo hoje... o dia que milhões de dúvidas e incertezas caiam sob minha cabeça, parecia que o céu também iria desabar a qualquer minuto. Definitivamente é o fim, pensei... talvez seja um sinal divino, afinal, o azul e o canto dos pássaros supostamente poderiam até me dar um um alento, mas, who cares! Inês é Morta!

Enquanto olhava pela janela, sorveu em um gole a bebida que tinha no copo que segurava e esperou a chuva cair... forte e ruidosa, viu as árvores se debatendo ao vento...

Na primeira oportunidade, entrou em seu carro e seguiu o seu caminho, naquele dia parecia ver a cidade apenas em tons de branco e preto, e estranhamente se diria para o lado mais escuro daquela cidade... a cada metro a frente, parecia que entrava mais a fundo nas entranhas daquela tarde negra, e nos seus próprios pensamentos.

De repente, se deu conta que tal como sua vida, não tinha a menor idéia sobre como seria o dia de amanhã... Frio?! Sol? Chuva? O calor escaldante que tanto o incomodou nos últimos tempos? Que seja... sua única certeza é que estaria lá... e seu dia ainda estaria em tons de cinza. Mas também não queria pensar muito a respeito, por ora, lhe bastava sentir os pêlos eriçados de seu braço por conta do vento frio e úmido que cortava aquela noite...

Enquanto seguia caminhando por aquele longo corredor, que o levaria até o seu destino, lembrou-se de uma canção francesa... os mais atentos talvez o tenham murmurrar algumas poucas estrofes, outros, nem notaram quando ele desapareceu na noite negra, se misturando em meio aos "populares" que por ali passavam...



Chasse,
Traque la en moi, ce n'est qu'en moi qu'elle vit,
Et lorsque tu la tiendras au bout de ton fusil,
N'écoute pas si elle t'implore,
Tu sais
Qu'elle doit mourir d'une deuxième mort
Alors,
Tue la... encore.
(Ma Memoire Sale, Alex Beaupain)






Cace,

Persiga-o em mim, é apenas em mim que ele vive,
E quando o tiver na extremidade do teu fuzil,
Não ouça se ele te implora,
Você sabe
Que ele deve morrer de uma segunda morte
Então,
Acaba com ele... outra vez.



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;-) Abração!


"E hoje me entreguei ao copo, não deveria, eu sei. Talvez eu mesmo me aconselharia a não recorrer a esse subterfúgio. Mas pouco me importa, não quero conselhos, não quero piedade, não quero a consciência... sem querer parecer orgulhoso, já os tenho - e de sobra!!! Sei todos os por quê´s, sei todos os "contudo", "entretanto" e "mas"... só preciso de um tempo para aceitá-los... se quiser, sente-se comigo, beba comigo... há o bastante para nós dois.

Apenas peço que não diga nada, tenho todas as perguntas, nenhuma resposta, mas sei todos as ponderações de cor. Fiquemos em silêncio, assim posso sentir a cada gole o topor se apoderar do meu corpo, das minhas células... despeço-me assim dos meus sentimentos, na esperança de que eles realmente se percam em algum lugar... e que quando recobrar "o juízo", eles tenham se esquecido de voltar e fiquem adormecidos em algum canto da minha memória.

Daqui a pouco Bacco me levará a ter com Morpheu... espero que ele me leve a mares nunca antes navegados... seria por demais irônico encontrar com quem não quero neste momento, ou melhor, encontrar com quem demais quero.

Mais um gole... sinto "o soro" queimar minha boca e descer rasgando minha garganta, quem sabe queime também qualquer lembrança, qualquer resquício e vestígio de um dia andaste pela minha boca. Mas quer saber?! Não bebo por você, nem para esquecê-lo, apenas bebo por beber... de fato não sei o que fazer e para onde ir. Então..., até aceitar fazer de fato, o que já sei que devo fazer, ficarei aqui... sob a desculpa de que estou muito embriado para fazê-lo.

Tolo de quem acreditar....

A cada gole pareço mais desperto, mais ciente das coisas... não se fazem mais whiskies como antigamente, por isso ficarei aqui... escondido atrás das lentes escuras dos meus óculos, em silêncio, me despedindo...

As explicações, as justificativas não mais me interessam... fato é que você não está aqui, nem nunca estará! Apesar de tudo, saiba que no livro da minha vida haverá uma nota de rodapé dedicada a você, meu orgulho me impede de lhe dedicar um capítulo inteiro - mas saiba que no fundo eu lhe sou grato por tudo o que vivemos. As poucas linhas no final daquela página que provavelmente ninguém vai ler, sempre serão muito valiosas a mim... e é suficiente que eu e você saibamos disso. Afinal... nem sei se haverá alguma menção a mim no teu livro, mas isso pouco importa... de verdade! Você e eu saberemos o valor de tudo o que vivemos, it´s enough!

Maldição! A garrafa está vazia... talvez seja a deixa para seguir em frente... talvez seja a minha deixa para ir embora... Fernando Pessoa diz que um dia de chuva pode ser tão belo quanto um dia de sol... se ele morasse pelos trópicos saberia que um dia de sol também pode ser tão "gris" quanto um dia nublado.

Não me lembro do teu nome... mas, enfim, te vejo por ai...

Até!"

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;-)

Só para não perder a mão! Espero que todos estejam bem...
E que façam dessa uma ótima Semana!

Abração bem apertado! [e falem baixo por favor! kkkkkk]


"Nascer
Outra e outra vez
Indefinidamente
Como a planta sempre nascendo
Da primeira semente;
Pensar o dia bom
até criar a claridade
E nela descobrir
A primeira sílaba
da primeira canção"
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)


A quem possa interessa...

Estou bem, ainda vivo! [kkkk] Mas preciso terminar algumas coisas e isso tem me tomando um tempo razoável, por isso não tenho blogado, mas sempre que possivel estou passando para acompanhar as notícias! Espero que todos estejam bem...

Abração! E que venha Março! ;-)


"Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue...
(FERNANDO PESSOA)