Aquela noite

Ele sabia que aquela não seria uma noite comum, apesar de não saber exatamente os desdobramentos, o inusitado da situação era o suficiente para garantir tamanho frisson. E foi assim que esperou a noite chegar, enquanto o dia parecia custar a findar o relógio brincava com sua ansiedade... Enquanto esperava pelo contato, em um exercício mental certificou-se de que tudo havia ficado em seu lugar para recebê-lo. Como manda a boa educação, uma cama foi preparada ao lado da sua, pensou tirar aquele enorme poster de criança, em que montado em seu famoso triciclo vermelho ostentava um largo sorriso de criança... 

O toque do telefone o trouxe de novo à realidade, do outro lado aquela voz que tanto o encantara, conforme combinado ele o esperaria em um shopping próximo "a Firma", ele veio! Ainda que não confessasse, no seu íntimo trazia dúvidas, não teria sido a primeira vez que ele cancelaria um compromisso, mas ele havia vindo. Alguns meses haviam se passado desde a última vez que se viram, até que uns dias antes ele ligara... por conta de uma viagem, pedia a indicação de um estacionamento onde pudesse deixar o carro, já que faria uma viagem curta e partiria em um voo nas primeiras horas da manhã.

No final, minha garagem foi a escolhida para guardar o carro, ele viria de sua cidade e assim poderia descansar algumas horas até o voo, ou não! 

E ninguém dormiu na verdade... 

Antes de partir para o banho, apresentou-lhe o quarto e cama preparada, no retorno o encontrou sentado em sua cama, lendo um de seus livros... e assim começaram a conversar, parecia natural que comentassem sobre os últimos meses, mas evitaram determinadas perguntas... Enquanto o ouvia falar sobre os planos profissionais, tentava disfarçar o encantamento pelo seu rosto, pela sua voz...

Não se sabe quem tomou a iniciativa, mas suas bocas "colidiram" delicada e suavemente em algum momento, as coisas entre eles pareciam ocorrer de uma forma muito natural e simples, era como se fossem passos de dança que só eles conheciam... foi assim no primeiro, naquele beijo e isso os acompanharia até o último beijo. Aquele fora um beijo de reencontro, de saudades, de incerteza... mas definitivamente um beijo com gosto de primeiro beijo...

Poderia ter passado a noite se amando, e passaram...  mas não da forma mais óbvia, recostado em sua cama, ele se aninharia em seu peito e assim, entre beijos, abraços e entrelaçando as mãos enquanto conversavam, nem perceberiam o passar das horas... Quando a noite começou a se despedir, sabiam que era chegada a hora de partir... O saguão ainda pouco movimentado do aeroporto denunciava que ainda era muito cedo, assim após os procedimentos de praxe, puderam se acomodar para uma xícara de café, enquanto ele ouvia atentamente as dicas de lugares para visitar. 

De um canto do terraço, assistiu à decolagem do avião emoldurado por uma magnifico nascer do Sol... só seu deu por vencido quando o avião desapareceu no horizonte, como quem acorda de um sonho bom, voltou para casa e nem sentiu o dia que se seguiu... ao 
retornar para casa, olhou para a cama novamente... e suspirou...


Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saia delas
Como um corpo ressequido
que se estira num banco tépido
Sentia um acréscimo de estima por si mesma!
E parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante...
Onde cada hora tinha seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase...
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações..."

(Amor I love you, Marisa Monte, [clique aqui para ouvir])



(Ciao (2008) - Filme completo: clique aqui)

Pois é, já tive Carnavais mais animados... mas vamos que vamos, estou aqui perdido em planejamentos e "incertezas", mas tudo caminha bem... Como eu gosto de dizer, eu poderia até reclamar, mas acho que não seria justo...

No meio tempo, vamos viajando e cantando! ehehee

Espero que todos estejam bem!

Hasta breve!

Eu não ia falar nada, mas enfim... uma confissão. No outro dia, entrei o carro dele, fechei a porta e por alguns instantes fiquei ali, de olhos fechados, apenas sentido o perfume dele que dominava o ambiente...  

Navegadores

Existem pessoas que nascem, crescem e vivem até o fim de suas vidas em um mesmo lugar, em uma mesma casa. Ano após ano são testemunhas das mudanças daquele lugar, das pessoas que chegam e saem e tal como as árvores daquela região, firmam raízes ali. Conheço pessoas assim, algumas após casarem continuaram na mesma rua, no mesmo bairro, inclusive.

Eu não sou uma dessas pessoas, nunca fui.

Minha primeira mudança acho que aconteceu aos 6 meses, quando meus pais deixaram Belo Horizonte (sim eu sou mineiro, uai!), para ir para São Paulo... acho que vale dizer, que minha família tão pouco era de Minas, eu pai estava lá trabalhando quando eu "cheguei", os anos seguintes trouxeram novas cidades, as vezes em um espaço maior de tempo, as vezes, não. Assim, eu não tem um "melhor amigo" desde o tempo do colégio, não tem aquela vizinha, já uma senhorinha, que a gente viu envelhecer e sequer me lembro se algum dia eu toquei campainha na casa de alguém e sai correndo. Há dias que penso nos "impactos" que isso teve na minha vida, se por um lado me levou a ser "adaptável", e talvez tolerante, a qualquer situação. Por outro pode ter contribuído para que fosse um pouco mais introspectivo, um pouco mais "velho" antes da hora. Quem já mudou de cidade, de escola, sabe o quão delicado são esses momentos. 

Não reclamo disso, mas tenho curiosidade de saber "quem eu seria" caso tivesse sido nascido e criado em um só local. Tanto não tenho problemas, que eu mesmo, com as minhas perninhas, não parei com as andanças após adulto... e por minha conta e risco já tenho lá minhas próprias mudanças. E nesses dias que me preparo para começar um novo movimento, que provavelmente vai me levar a uma grande mudança novamente, não consigo deixar de revisitar essas questões.  

Muitos dias me pego imaginando que não estou longe daquelas pessoas que partiram um dia em caravelas mundo a fora, aliás, chegar ou partir, seja de um aeroporto ou uma rodoviária, quase sempre me lembra desses navegadores. Alguns sortudos tem pessoas esperando, outros pessoas para se despedindo e tem aqueles que apenas observam... De qualquer, todos vão lançar-se ao mar, sem a certeza de voltar, de chegar e muitas vezes sem saber o que os espera...

Talvez meu espírito seja esse... o de um Navegador! 


"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal"!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu
(FERNANDO PESSOA, 1934)


Enfim... pensamentos soltos, e por falar em pensamento... me lembrei dessa música.



Hasta breve!!

São Valentim

E porque vai ser dia de São Valentim...
E porque eu achei esse vídeo de uma loja espanhola muito fofo...
E porque eu posso ter tomado um pouco a mais de vinho do que o juízo recomendaria... 

E porque eu queria levar umas flechadas... #prontoFalei

Enfim...






Acho que terei dor de cabeça amanhã! :P`

Hasta breve! ;)

Eu sou...

"Eu sou essa pessoa, a quem o vento chama,
a que não recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus, sem tentação de volta.
Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza.

Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
iá de horizonte libertada, mas sozinha.
Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,
dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?

Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.
Pelos mundos do vento, em meus cílios guardadas
vão as medidas que separam os abraços.

Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

Agora és livre, se ainda recordas."

(CECÍLIA MEIRELES, in Solombra)

Não sei bem onde li, ou mesmo se ouvi de alguém uma frase que dizia, entre outras palavras, que nossa salvação está em nos nossos maiores medos!

E foi assim, meio que com medo que comecei um processo alguns meses atrás, na verdade ele já era o resultado de alguns outros movimentos iniciados a pouco mais de um ano. Só sei que acabei novamente frente um velho conhecido, um local em que eu não fui exatamente "bem sucedido", pelo menos não no sentido mais "estreito" da palavra... Na verdade, eu sempre acreditei que ganhei muito mais do que perdi, mas no papel o desfecho não foi tão legal assim... De fato, eu encarei como uma derrota pessoal. Mais eis que, passado algum tempo, lá estava eu de novo, nos mesmos corredores. Vergonha, orgulho ou preconceito, ou mesmo um pouco de tudo, sempre me deram a certeza de que esse meu "passado" voltaria para me assombrar e pelo jeito, era chegado o momento. E foi assim, meio que "no vai doidão", que eu resolvi pagar para ver... 

Pois bem, foi um processo duro, rigoroso e de certa forma corrido, tenho certeza que em algum ponto minha capivara* foi levantada, mas... no final, eu havia sido escolhido, e ninguém sequer mencionou "o passado"! Confesso que ainda me sinto meio desconfiado, mas tenho que aceitar que... Houston, decolamos!

Não vai dar para escrever muito agora, mas vale dizer que talvez seja o próprio vento, que a Cecília Meireles menciona, e que me levou a esse momento, seja o mesmo que está a me levar para novos destinos, mudança à vista!!! 

Enquanto eu corro para poder me achar nesse "torvelino de emoções" e me perco em burocracias, formulários e incertezas, tento entender um pouco das coisas que vão passando pela minha janela estrada a fora.

*Capivara - é uma gíria usada para ficha criminal. :P

Até breve! :-)


 Não sou profundo conhecedor, mas sou fã confesso dos "Tugas" e gostei muito dessa música (Diogo Piçarra - Tu e Eu), vai ser com ela que me vou hoje... ;-)