The Bridge



 Pior do que "ser expulso" da nossa zona de conforto, é quando, de alguma forma, criamos a consciência de que é chegada a hora de deixá-la, mas como?! Se durante tantos anos fizemos tudo para construir esse lugar, buscando deixá-lo o mais parecido possível com a vida?!  

Por onde começar?! O que se faz primeiro?!


Visitando o passado, eu chego a conclusão que apesar de ter feito bastante, foram poucas pontes no caminho, talvez a última grande, tenha sido lá pelos meus 13 anos, quando deixei São Paulo, para uma temporada no interior, em uma pequena cidade distante 200 quilômetros de São Paulo - aquile fato teria grande impacto na minha vida. E com minha bicicleta, eu tinha todo um mundo novo a explorar, o que me rendeu uma clavícula quebrada! ;-)

Mas eu creio que esqueci esse garoto lá, quando tive que voltar à cidade grande, desde então, eu entrei em um modo "padrão", me esforçando ao máximo para seguir as regras "do livro". Nas coisas que eu acreditava não me encaixar, aprendi como adaptar de forma que aquilo fosse transparente, nas outras me esforcei para fazer "tudo certo".

Nessa brincadeira, a gente acaba se esquecendo da nossa própria história... já que temos que gerenciar tantas outras histórias, ainda que tudo tenha sido devidamente explicado e justificado. De início isso não parece tão problemático, já que parecemos ter tantos caminhos, que podemos passar desapercebidos... mas, para todos, chegará um dia em que nos deparamos com uma ponte... e surge uma questão, atravessar ou ficar?!

Talvez você até queira atravessar, afinal sabe que por melhor narrador que seja, seu repertório um dia findará... contudo, não faz ideia do que o espera do outro lado da ponte. Todos os seus cursos e pós-graduações parecem não tê-lo preparado para o que vem depois. Até mesmo porque você está relativizando, como sempre fez, afinal, de fato, ninguém sabe o que vem depois... e talvez seja justamente isso que se chame viver!

Do outro lado, de longe, você visualiza apenas uma pessoa, de quem além do semblante amigo, você sabe apenas o nome... 


Eu fiquei uma porção de tempo tentando ser "legal e maduro",
"uma presença leve e agradável" —
porque eu tô ainda muito inseguro de mim mesmo, e não acreditando
absolutamente que alguém possa me curtir bem assim como eu sou.
Eu não tenho quase experiência dessas transações, me enrolo todo,
faço tudo errado — acabo me sentindo confuso.
Tudo isso é tão íntimo, e eu já estou tão desacostumado de
me contar inteiramente a alguém, tão desacreditado
na capacidade de compreensão do outro, sei lá,
não é nada disso, sabe? 
Conviver é difícil — as pessoas são difíceis — viver é difícil paca."
(CAIO FERNANDO ABREU)

9 comentários:

FOXX disse...

"afinal sabe que por melhor narrador que seja, seu repertório um dia findará..."

sofro deste problema no blog...

Frederico disse...

Eu não gosto muito de olhar para o passado pq sempre me arrependo de algo não feito ou que poderia ter sido diferente, prefiro mais olhar para o futuro

Lucas disse...

Amigo, um singelo toque (na maior boa intenção... ): “Nessa brincadeira, a gente acaba se esquecendo da nossa própria história...”. O problema não é esquecer a nossa história, que isso não existe! O problema é não viver a nossa história, ou vivê-la de uma forma que ela nos soa como inverdade, como a não desejada, sonhada... esse é o problema. As pontes sempre costumam existir. A gente é que insiste em continuar nos atalhos tortuosos, ao invés de atravessá-las.

Beijos.

Sr. Café disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Math disse...

Eu já disse que não concordo com "sair da zona de conforto"...eu acho que devemos "ampliar limites" para que a zona de conforto comporte o que queremos, e quem queremos.

Não que eu seja a melhor pessoa a dar conselhos.....

Abraços

Sérgio disse...

Penso que quando decidimos sair da nossa zona de conforto é porque estamos preparados para isso ou porque deixou de ser a nossa zona de conforto.
Mas essas mudanças são sempre difíceis.
Abraço

Fred disse...

Tipo assim... de certa forma a gente ainda tem 13 anos. 13 anos acrescidos de todos os outros que vieram depois, claro... hehe! E nem toda ponte precisa ser atravessada... a gente tb pode saltar dela, nzé? Hugzones, meu querido!

Carlos Roberto disse...

Tenho medo de suas citações. Mas não só das suas citações. Ando com medo dos seus post também.

Ultimamente o seu é o último blog que visito, sempre que há atualizações. Vejo todos os atualizados e por último é o seu. Isto porque é o que anda mais me fazendo refletir, se aproximando de mim, rasgando-me aos poucos... Desta vez você foi tão fundo que tive de parar e pensar, pensar, e pensar... Cheguei a deixar o pc de lado e deitar na cama, olhar para o teto, apagar a luz, ouvir o barulho do ar condicionado... Pois é, estou no mesmo momento que você. Modo de dizer claro, cada um sabe de si, porém há frases no texto que posso me apropriar...

Nem sei mais o que to dizendo... Tanta coisa está passando pela minha cabeça...

Homem, Homossexual e Pai disse...

Belo texto, e a citaç~~ao do acio fernando serviu perfeitamente! abs

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