Segunda Chance

Logo que eu vim trabalhar por essas bandas, encontrei um grupo de estagiários, um pessoal muito bacana, contentes pela atenção que recebiam, alguns acabaram se envolvendo em diversas atividades que desenvolvíamos, e foi natural que um laço de amizade fosse estabelecido. Era possível notar que alguns deles tem um grande potencial, por isso sempre procuramos estimular que eles procurassem novos horizontes e desafios.

Um em especial era “filho” de uma colega, responsável pelo projeto, ela praticamente o adotou, procurando orientar e encaminhar. Ele não é exatamente um “adolescente”, tá meio passado já, mas tem a aparência física de um, e segundo eu soube a mãe já é falecida e ele mora a irmã e o cunhado, o cara é bom mesmo, mas parece meio perdido, meio solto...

Quando essa colega foi transferida, como nós (eu e uma outra amiga) estavamos meio ligados a ele e aos colegas dele, herdamos "as crianças"... Nessa altura, ele já estava concluindo a faculdade e, por acreditar no potencial dele, nos empenhamos em garantir que ele pudesse continuar estudando, fazendo um mestrado – que em nossa cabeça seria um passaporte para ele ir para outros lugares, poder conquistar novas oportunidades.

E nos conseguimos! O cara foi aceito fazer mestrado na Unicamp! Óbvio que as indicações contaram pontos, mas o trabalho do cara contou muito mais, afinal, em um programa como o deles, ninguém tá a fim de fazer caridade.  Apesar de ter consciência dos riscos envolvidos, nós tínhamos esperança que os ares “do novo mundo” fossem suficientes para estimulá-lo a lutar, e como ele não tinha condições de se manter, nós “patrocinamos” a viagem e a hospedagem até que ele começasse a receber uma bolsa, e a partir daí o voo era por conta dele!

Mas de boa intenção esse mundo tá cheio, e é difícil fazer uma coisa andar direito quando ela sempre caminhou capenga... apesar de todos os predicados, o cara deu umas pisadas de bola e pior, por alguns pontos ficou com o desempenho abaixo da média exigida para manutenção da bolsa de estudos dele... ou seja... água! Ele voltou...

Nessa época eu já estava me afastando para minha cirurgia, e não cheguei a encontrá-lo, ele também passou a evitar aparecer aqui na Firma,  mas sempre tínhamos notícias por meio dos outros “estags”. Eu sempre fui da ideia de que só não peleja quem tá morto, então eu confesso que eu queria esfolar ele vivo, não por ele ter perdido a bolsa - isso era parte do jogo, mas por não ter lutado, esperneado, se agarrado, vendido o corpo, feito qualquer coisa para tentar se manter "na luta".

[Alguns meses depois... ]
Hoje eu o vi online “em uma rede social”, resolvi puxar papo, terminei a conversa muito chateado ao percebê-lo meio perdido, segundo as suas próprias palavras!  Ele está trabalhando em uma pequena empresa, nada muito desafiador ou estimulante, ainda mais que ele é aquele tipo de pessoa que poderia se destacar em tantas coisas!

Durante a conversa, ele praticamente me pediu ajuda, disse que precisava conversar... que precisava de uns conselhos. No post anterior eu escrevi que não sabia a razão de ter voltado para cá, talvez eu esteja começando a encontrar enxergar alguns motivos... me senti por mal, por ter querido esfolar ele vivo quando soube que ele havia desistido, ao invés de tê-lo convidado para um conversa... mas também acho que esse era o tempo que ele precisava para começar a entender e amadurecer.


Na verdade, tenho que reconhecer que as vezes o apoio da família, ou mesmo dos amigos, é importante para que em momentos decisivos encontremos força para superar algumas batalhas... eu sempre tive a sorte de contar com pessoas bacanas por perto, e reconheço que talvez não seja o caso dele. Ainda acho que ele podia ter se esforçado mais, mas também acredito que a essa altura ele já entendeu bem a consequência dos atos dele... e mais do que uma crítica, eu penso que ele está precisando de uma segunda chance... então...

Lá vamos nós de novo... 

"Você fez o que pensou ser melhor.
É o que sabia na época.
A vida mostrou a verdade e você aprendeu"
(ZIBIA GASPARETTO)

8 comentários:

Madi Muller disse...

Oi Latinha, teu amigo perdido precisa assistir aquele filme do Van Damme, cujo título sempre me motivou: "Retroceder nunca, render_se jamais"...a gente sabe q o trem não passa 2 vezes, o cara ficou na estação...

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Admiro a sua disposição e seu espírito altruísta, mas sou obrigado a concordar com a Madi ... Todos nós sabemos q o trem não passa duas vezes e que o cara ficou na estação. Pode parecer duro ouvir isto mas ele teve o apoio de vcs de forma desprendida e desinteressada ... ele pisou na bola ... ele voltou e não deu a menor explicação ... se não fosse o fato de vc ter encontrado o rapaz em uma rede social vc não teria conversado com ele por iniciativa dele ... entonces ...
Levo em conta tb o fato de tantos outros q tb não tiveram as mesma oportunidades na vida e q, mesmo assim, saltaram seus obstáculos e se tornaram pessoas maiores ... enfim ... tenho a percepção de que todos nós temos as nossas dificuldades ao longo do tempo de nossas vidas e, se superamos foi fundamentalmente pq assim o desejamos e lutamos muito. O apoio familiar e de amigos, claro, ajuda muito, mas não é por isto q demos o salto ... poderíamos ter tido tudo isto e, mesmo assim, não termos dado o salto. O inverso tb é verdadeiro, poderíamos não termos tido nada disto e termo dado o salto. Isto depende fundamentalmente de cada um, de sua vontade, de sua luta, de sua perseverança.

Beijão

Math disse...

Eu aprendi, na teoria e na prática, que a oportunidade é uma mulher de cabelo na testa, se você não agarra de frente, ao virar as costas você não vai conseguir agarra-la mais....então...tb concordo com os comentários acima...

Super opinião minha....muito "madre teresa" da sua parte....te daria o conselho de olhar um pouco mais pro teu umbigo.....pois a vida é curta! Bem curta!!!

Unknown disse...

Acho que vou contrariar a maioria (rs). Eu acredito que, dentro do razoável, devemos dar, não só uma segunda, mas quantas chances julgarmos que a pessoa merece. Óbvio, desde que sintamos que a pessoa está se esforçando para aproveitar a chance. Sempre penso que muitos não tiveram a estrutura (família, amigos, etc.) social tão favorável para que pudessem aprender a lutar sozinhos.

Enio disse...

Muito bem rapaz, segundas chances são coisas tão boas! E como as boas coisas da vida demoramos pra perceber as oportunidades ou os porquês e nada como a maturidade e um bom amigo pra mostrar. Abraço!

Fred disse...

Santo Latinha! Só digo isso... hehe! Não. Digo mais: comigo nada de puxar papo, nzé? #chatiado! Hahahahahaha! Hugzones e ótimo carnaval, fiote!

Lobo disse...

Por mais que queiramos ajudar os outros, se os outros não querem, ou não conseguem entender essa ajuda, fica difícil. O maior esforço parte de quem pede ou precisa. Porque a pessoa precisa de empenho, de querer mudar algo, de querer lutar para mudar alguma coisa e tem que demonstrar isso não ao mundo, mas principalmente a ele próprio, caso contrário nada feito.

railer disse...

algumas pessoas deviam aproveitar melhor as oportunidades que tem...

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