E o amor vos libertará

"Até então, sempre ouvira dos mais velhos que a verdade é que o libertaria, como nada para ele acontecia da forma "convencional", foi na verdade o amor que o libertou! Sentado na cama, tinha em suas mãos um pedaço de papel... amassado pela ansiedade que o consumira naqueles dias, o que ali estava escrito não mais importava, no final de tudo aquele papel seria a única prova, ou testemunha, daquele momento.

E, por fim, o tal temido momento chegou...suspirou mais uma vez. Apenas sua respiração ecoava no quarto que agora era cheio apenas por lembranças. De fato, perdia-se entre pensamentos, desejos e lembranças... a um tempo sabia que aquela decisão não tardaria a chegar e apesar de tentar, em vão, se preparar, tentou retarda-la o máximo possível.

Carregava em si muitas incertezas, logo ele que sempre primou pela lógica e organização das coisas. Mas naquele dia nada parecia fazer muito sentido. Sabia que era chegado o momento de libertá-lo, mesmo porque talvez ele já não o fosse seu a tempos, e por mais que quisesse enfeitar o pavão, o gesto nada tinha de altruísta ... era na verdade a última cartada de seu egoísmo, pois finalmente entendera que libertando-o, na verdade estava libertando a sí próprio. O peso de carregá-lo junto a si, de súbito tornara-se demasiadamente alto e não mais tinha forças para isso.

Sentia-se machucado, não era magóa, por Deus já entederá que cada coisa tem o seu tempo. Mas, mesmo que possamos aceitar um fato, sua compreensão por vezes demanda ainda muitas energia, e foi assim, apesar do gesto lhe exigir o máximo de suas forças, colocou-se de pé... o sol alaranjado já começava a se despedir daquele dia, mas ainda assim, vestiu o bem cortado terno, colocou os óculos escuros e saiu pela porta.

O som dos passos, mesmo abafados pelo carpete parecia cadenciar com as batidas do seu coração naquele momento. Sob a mesa de cabeceira ficou uma foto, "esquecida", o gesto em si não tinha nenhum significado, afinal, bastaria fechar os olhos e a poderia descreve-la com riqueza de detalhes. Talvez desenhasse se soubesse como fazê-lo.

Enfim, a noite se aproximava... e como diriam os mais velhos, nada como um dia após o outro!
"After all", aquela pessoa havia transformado o seu inverno em primavera... e mesmo que o verão agora fosse o seu outono, ainda assim... ele merecia todo o seu respeito.

E foi assim que tentando não olhar para trás, seguiu o seu caminho, tentava dar passos firmes...
"


I´m Back! ;-)
Geralmente eu terminaria esse post com Fernando Pessoa, esses portugueses (ehehe), mas hoje estou mais para Clarice Lispector... enfim, estou de volta ao jogo! ;-)


Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
(CLARICE LISPECTOR)


6 comentários:

Serginho Tavares disse...

e por favor moço não demore muito a nos presentear com seus posts
abração

Math disse...

Belas citações.....muito bem escolhidas para esse momento.

Não precisa agradecer meu querido....não façao nada que um amigo verdadeiro não faria.

Abraços

Paulo disse...

Seja bem vindo, Latinha!

Amei estes versos finais da Clarice Lispector!! São a mais pura verdade!


abração!

FOXX disse...

uau
o texto da CL disse coisas q eu penso com meus botões ha tempos, posso pegar emprestado para um post?

Edu e Mau disse...

Saudades imeeeensas de você! Que bom que está de pé.

Anônimo disse...

Que bom que está de volta.
Adoro vc por aqui, hehehe
Bjo, amigo!
E tô aguardando o filme, né? rs
Uma hora ele chega, tenho fé!

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